sábado, 8 de abril de 2017

Um dia li do Vinícius que de repente do riso fez-se o pranto, silencioso e branco como a bruma...

Há dias em que a saudade é como clarão de lua. Te sentas frente ao mar e o vento te sopra forte o burburinho ruidoso do quebrar das ondas. É um aceno, um beijo talvez. Um alento de dizer que a brevidade da vida é um átomo, tal qual a fina areia escorrendo entre os dedos quando resvalas em instinto a débil ideia de possuir um punhado de amplitude. O horizonte não tem sentido algum senão deixar-se observar e ser teu. Dá-te as mãos e é como um sopro amigo a dizer-te o caminho de resinificar tudo em memória. 


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sim, justo por ter sido aprovado no DELE resolvi terminar esse texto esquecido nos meus rascunhos. Escrevo como quem samba de felicidade por não ter perdido quase 500 reais da inscrição e sabendo que a assinatura nesse certificado vai pra gaveta já já e sequer representará a felicidade de agora. Ou de quando se nada for útil no texto vá até o fim assim mesmo, escute aquele Piazzolla maroto e feliz como se fosse o Pharrell Williams e deixe um coments bacana.

Outro dia numa roda de amigos me perguntaram o motivo do meu interesse pelo idioma Castellano, não titubeei ao afirmar que devia-se por questões culturais, de apropriação de algo com maior veracidade. Quando eu tinha 16 ou 17 e dava os primeiros passos no idioma, imaginava que seria incrível ler "Cem anos de solidão" do García Márquez na língua materna do autor colombiano. Não estava de todo equivocado e por isso minha jornada por ler o Hugo em  Francês o Dante em Italiano ou recentemente aquele box incrível da saga Harry Potter que presenteou-me meu irmão de quando seu intercâmbio nos Estados Unidos. Hoje tudo isso continua a fazer sentido mas ultrapassa a questão literária.

As possibilidades musicais para além da prática de um instrumento pode e deve ser ampliada através do domínio de uma língua estrangeira. Não são poucos os exemplos de amigos ou desconhecidos nos jornais que são mostrados conquistando outros palcos pelo mundo afora. Tudo isso, passa antes, por uma bateria de meses, semestres ou até mesmo anos de estudo nas universidades, conservatórios e academias de música em países de tradição (ou não) na música. É certo que ninguém em absoluto é incapaz de lançar-se rumo ao desconhecido sem dominar minimamente a língua daquele local, mas que sabê-lo facilitará nossa vida e abrirá caminhos menos tortuosos em termos de comunicação e adaptação, isso sim. 

Não é preciso desejar estudar fora pra enxergar a importância de um outro idioma, nesta perspectiva, a universalidade do inglês é fundamental e isso faz-me recordar um Masterclass que participei (como observador) há uns três anos atrás e de como era vexatório o desconforto dos professores  diante da total incompreensão por parte dos presentes. Não havia comunicação e com isso, tempo e conhecimento quase esperdiçados. Não, não é obrigação de ninguém adequar-se, ou é: depende dos objetivos a seguir, quase sempre na rotina de músicos que se prezam (porque tem muito "profissional" que não) ir a congressos, festivais, circuitos de música e afins. Não há como desprezar a importância de um outro idioma que conecte você ao mundo de possibilidades e contatos, sejam profissionais ou não. Repensar isto certamente te fará comprar com mais facilidades aquelas cordas em site gringo, ver aquela entrevista marota com o seu ídolo na música, viajar o mundo em busca de melhor entendimento e inserção no seu universo, isso tudo sem precisar sair de casa, ao alcance do teclado e do monitor para digerir a internet. 

Por ora indico o Oblivion Happy do quarteto de Berlim e deixo pra outro dia o segundo exemplo que abordaria, de quando uma amiga violinista recebeu um convite sério de ir passar uma temporada em terras andinas tocando com uma orquestra expressiva e não moveu uma palha sequer pra que fosse realidade esse intercâmbio bacana!

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sábado, 18 de fevereiro de 2017

Por ser um dia cinza o II Movimento da 7ª do Beethoven parece dançar no sangue feito labirinto, e por parecer chover, prefiro mais as madeiras desta peça ao avião que corre escondendo-se por detrás daquele prédio de mais de vinte andares

E por ser enérgica, pulsante mesmo quando escrita em condições de efemeridade do autor nos idos de 1811-1812 e apresentada apenas em 1813 sob presença do próprio compositor em homenagem aos soldados austríacos feridos na guerra de Hanau, esse Allegretto me coloca sempre diante dessa sensação não descritiva de que nem sempre um movimento traduz o que pretende-se na gênese. Afinal, que sentido, qual direção aponta tão robustas frases musicais apresentada em micro melodias marcadamente ritmadas e repetitivas?





Sinfonia no. 7 in A Maior Op. 92 II Allegretto, Filarmônica de Viena.
Regência: Leonard Bernestein

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Acreditei no Caetano quando disse que todos os homens do mundo voltaram seus naquela direção!

E se de repente você redescobre lamentavelmente que os de fora têm maior fascínio pela promoção de nossas belezas musicais? Não uma, ou duas, ou mil vezes, mas infindas vezes você encontrará belezas musicais nossas executadas e ou visitadas (com fascínio e entusiasmo) por grupos sinfônicos internacionais, se isto é um recado latente sobre apropriação cultural, bem, não sei dizer, não tive tempo de definir a sensação pois o ritmo do vídeo que disponibilizarei abaixo, não me deixa em paz. Repito-o muitas vezes até diferenciar os entretons nas cores deste arranjo envolvente.

Disse "envolvente" no sentido de reparar o uso frequente da palavra "Maroto" (Já que fui advertido por um leitor frequente deste espaço, de que o uso do termo soava displicente demasiado com a identidade do blog. Meus dedos congelaram alguns segundos antes de mandá-lo ir às favas por razões bem óbvias, mas como as vacas andam mais magras do que o normal e este blog  sequer ostenta muitos leitores, preferi a linha Alice com ele, na esperança de que o vídeo que compartilho agora seja mais producente do que a resposta anexa. Aliás, que tal escolher uma das três opções abaixo para comentar a beleza desse Arranjo da música Mais que nada, do Jorge Ben Joe e Sérgio Mendes (aquele mesmo, quase vencedor do Oscar de melhor Trilha pelo animação Rio) e  interpretada pelos 12 cellistas da Filarmônica de Berlim.

1. Primeiramente Fora Temer  (     )

2. Envolvente (     )

3. Maroto  (      )



PS. Dica do dia: O título desta publicação e uma das tags poderá levar-te a escutar uma das canções mais lindas do Cd Livros.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

“Essa é uma questão no mundo sinfônico: Mudar o formato, sem deixar nossas raízes, mas se aproximar desse público de hoje. Ficou mais simples se comunicar e a música sinfônica tem que alcançar essa velocidade.”

Não, não morremos! E meses de ócio, de férias da pasmaceira musical que assolou as bandas de cá esses últimos dois anos, fizeram-me ainda mais temeroso do que pode vir por aí. Como num movimento preguiçoso e covarde, tem muito grupo musical, muito músico achando que tá fácil a selva e não tem dado a cara a tapa. Quase nada novo tem acontecido de positivo (vide este blog que  segue indo do nada ao nada).

Por isso, enquanto espero pela temporada 2016 em qualquer canto de intermédio, vasculho uma ou outra notícia marota. Assim que aproveito para compartilhar esta daqui sobre a OPES (Orquestra Petrobrás Sinfônica) usar um repertório pop, neste caso, através da musicalidade instigante e perpétua do (ex-tinto) e ainda fresco grupo Los Hermanos para promover as possibilidades sinfônicas. Numa entrevista ao Thiago Dias do portal UOL em São Paulo, o maestro Felipe Prazeres, Regente do projeto e assistente na Petrobrás Sinfônica, explicita de maneira clara o poder de um repertório popular para desconstruir barreiras e formar a renovação de um público jovem e atento a outras formas de linguagem, caso da releitura que fazem do terceiro álbum dos Los Hemanos, o Ventura.

Vale a pena a leitura, mas não empolgue-se tanto amiguinho, ainda estamos falando de um produto caro e pouco acessível, a menos que você esteja aí do lado certo do país. E a quem não, nem puder estar, basta torcer que esse concerto viaje por muitos estados como foi com a Ouro Preto e seu concerto com o repertório Beatles (que na oportunidade fora patrocinada pela BR).


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Serviço:
Ventura Sinfônico
Rio de Janeiro
Data: 11 de fevereiro de 2017 (sábado)
Horário: 22h
Local: Fundição Progresso - Rua dos Arcos 24 - Lapa
Preços: R$ 80 (meia) e $160 (inteira)
Telefone: (21) 3212-0800
Apresentação seguida por show do Bloco pra Iaiá, dedicado ao Los Hermanos

Porto Alegre
Data: 16 de fevereiro de 2017 (quinta-feira)
Horário: 20h
Local: Auditório Araújo Vianna - Av. Osvaldo Aranha 685
Preços: R$ 80 (meia) e R$ 160 (inteira)
Telefone: (51) 4003-1212

São Paulo
Data: 17 e 18 de fevereiro de 2017 (sexta-feira e sábado)
Horário: 21h
Local: Teatro Bradesco - Bourbon Shopping - Rua Palestra Itália 500, 3° piso
Preço: R$ 100 (meia) e R$ 200 (inteira)
Telefone: (11) 3670-4100
Capacidade: 1439 pessoas
Classificação: livre

terça-feira, 29 de março de 2016

Delação premiada serve também ao mundo musical.Ou de quando Há muita coisa acontecendo do lado de lá do Brasil que as vezes nem nos damosconta pelo acaso da geografia.

José Luiz Herencia, ex-diretor geral da Fundação Theatro Municipal de São Paulo, que está sendo investigado por desvios que podem ter causado prejuízos de mais de R$ 18 milhões aos cofres públicos municipais, confessou os crimes e fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Estadual (o acordo ainda não foi homologado pela justiça). A informação foi divulgada na última quinta-feira, dia 17 de março, pelo jornal O Estado de S. Paulo. Conforme a reportagem, em sua delação Herencia envolveu no esquema fraudulento o diretor executivo do IBGC (organização social que dá suporte à gestão da casa) William Nacked e o diretor artístico John Neschling. O Secretário de Comunicação da Prefeitura Nunzio Briguglio Filho também foi citado. Herencia teria confessado ter recebido R$ 6 milhões, William Nacked teria recebido outros R$ 6 milhões, e o maestro Neschling depositaria a parte dele em contas no exterior por meio do produtor Valentin Proczynski, diretor da agência Old and New Montecarlo. Já o secretário Nunzio Briguglio Filho teria se empenhado pessoalmente para que fosse firmado o contrato do projeto Alma Brasileira. O acordo de delação prevê que Herenica devolva os seus R$ 6 milhões desviados.(Leia a reportagem completa de O Estado de São Paulo aqui.)

O projeto Alma Brasileira foi lançado, em Brasília, em agosto do ano passado, pelo ministro Juca Ferreira e pelos diretores Herência e Neschling, e previa também a participação do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e de teatros da Bahia e de Minas Gerais. Alma Brasileira seria um grande projeto multimídia realizado pelo grupo catalão La Fura dels Baus em torno do compositor Heitor Villa-Lobos. A realização, que teria um custo de R$ 5 milhões, seria integralmente bancada pelo Ministério da Cultura (leia mais sobre o Alma Brasileira aqui). Já em dezembro passado, na coletiva de imprensa para apresentação da temporada 2016 do Theatro Municipal, John Neschling, questionado, havia comunicado o cancelamento do projeto.
Na sexta-feira passada, dia 18 de março, o ministro Juca Ferreira divulgou nota sobre os superfaturamentos do Theatro Municipal e sobre o projeto Alma Brasileira, em que sustenta que não foi feito nenhum aporte ao projeto uma vez que “os realizadores se negaram a detalhar gastos no valor de R$ 3.299.980,00 que estavam alocados para pagamento da empresa Old and New Montecarlo”. Por sua vez, o Secretário Nunzio Briguglio Filho afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que não teve nenhuma participação na decisão de contratar ou realizar o espetáculo.

No último, dia 19 de março, o maestro John Neschling publicou um post em sua página do Facebook, refutando as acusações. “É curioso que se dê ouvidos a um ladrão confesso que tenta, para seu próprio benefício acusar maldosamente quem nunca participou de suas falcatruas. Certamente é sua forma de se vingar, uma vez que fui eu quem procurou o prefeito da cidade para alertá-lo da necessidade de uma investigação, quando suspeitei de que as coisas não estavam corretas na administração da Fundação e do IBGC, entidade privada que a administra”, escreve o diretor artístico (leia a íntegra do post abaixo).
Por conta das investigações, em 26 de fevereiro passado o prefeito Fernando Haddad determinou uma intervenção no IBGC, que desde então está sendo conduzido por Paulo Dallari, atual diretor geral da Fundação Theatro Municipal de São Paulo.

Leia na íntegra a matéria da Revista Concerto aqui.